O SISTEMA DE GOVERNO NA IGREJA APOSTÓLICA: CENTRALIZAÇÃO OU AUTONOMIA?
Ev. Jesiel Lincoln dos Santos
Ao estudar esta apostila, fique por dentro dos seguintes assuntos:
- Tipos de governo
- Funções do governo da Igreja
- Definição do termo Igreja
- Definição do termo Sinagoga
- O que existe em comum entre a Igreja e a Sinagoga
- A forma de governo na Igreja apostólica
- Como se organizavam as igrejas cristãs primitivas
- A influência da apostasia no sistema de governo da Igreja
- Dentro da organização da Igreja não deve existir o líder regional, nacional ou mundial
- O que tem a descentralização do culto do Velho Testamento com a forma de governo na Igreja
- Como funcionavam as primeiras Igrejas de Deus na América
- Incidentes que envolveram as Igrejas dos Estados Unidos, México e Brasil
TIPOS DE GOVERNO: No decorrer dos anos, surgiram muitas formas de governo eclesiástico, por causa do individualismo ou facções que, por se acharem donos da verdade, basearam suas teorias em pontos extrabíblicos. Vejamos alguns:
Tipo Monárquico: Aceita a liderança de uma pessoa como sendo suprema. Esta pessoa tem o poder de manipular todos os adeptos, mesmo que as ordens sejam contrárias à Bíblia.
Tipo Episcopal: O líder tem uma equipe de trabalho em que, estes não saem e outros não podem entrar, estando nas mãos destes todos os negócios atinentes à Igreja. Estes também obram contrariamente à Bíblia.
Tipo Oligárquico: Está na mão de um grupo pequeno, uma elite, que controla toda a Igreja. Os membros não se pronunciam sobre os assuntos que cabem a todos discutir. Geralmente são usadas pessoas de posse ou alto nível cultural.
Tipo Bíblico: O líder usa de democracia, sendo que a autoridade máxima é a Assembléia Geral Ordinária ou Extraordinária. À congregação cabe o direito de gerir os seus negócios. São os membros que decidem, em Assembléia, respeitando a decisão da maioria, e aceitam a decisão da Igreja como sendo a ação final.
FUNÇÕES DO GOVERNO DA IGREJA: Na Igreja existem funções semelhantes aos órgãos governamentais: legislativa, executiva e judiciária.
Função Legislativa: Cabe a Deus esta função, pois é um sistema teocrático. Seus ensinos estão contidos na Bíblia.
Função Executiva: É exercida pelo líder que, investido da autoridade que a Igreja lhe outorgou com a imposição das mãos, realiza todos os atos oficiais e preside os trabalhos em geral. Quando a Igreja toma deliberações congregacionais, ela também está exercendo autoridade executiva.
Função Judiciária: Compete à Igreja em Assembléia. É ela que admite e demite membros, quem julga as faltas dos membros e quem reconcilia os eliminados que se restaurarem. Em II Cor. 2:5-11 temos uma prova de como a Igreja executava a sua disciplina. Pelo voto da maioria, foi excluído um membro da comunhão. Com sabedoria, Paulo verificando que este se arrependera, exorta a Igreja a perdoar-lhe a ofensa e a restaurá-lo. É a Igreja quem decide. Não é um grupo ou uma única pessoa. É a congregação reunida que julga, decide e vota. A Igreja é a última corte de apelação e isto Jesus deixou claro em Mateus 18:15-17.
Fonte: Apostila de Administração Eclesiástica, Faculdade de Teologia, Prof. Samuel Camilo.
DEFINIÇÃO DO TERMO “IGREJA”
Em português o vocábulo “Igreja” se deriva do latim ecclesia, que por sua vez vem do grego ekklësia, palavra que no Novo Testamento, na maior parte de suas ocorrências, significa uma congregação local de cristãos e jamais um edifício. Ainda que freqüentemente falemos sobre essas congregações em sentido coletivo, chamado-as de Igreja de Deus, nenhum escritor do Novo Testamento empregou o termo ekklësia nesse sentido. Ekklësia era uma reunião ou assembléia. Seu emprego mais comum era a respeito da assembléia pública de cidadãos devidamente convocados e que era característica de todas as cidades fora da Judéia onde o Evangelho foi implantado (exemplo, Atos 19:39). O termo ekklësia também foi usado entre os judeus (na Septuaginta) para significar a congregação de Israel, que foi constituída no Sinai e se reunia na presença do Senhor por ocasião das festividades anuais (Atos 7:38). Quer o uso cristão de ekklësia tenha sido adotado pela primeira vez segundo o emprego gentio ou o emprego judaico – o ponto continua sendo disputado – certamente era subentendida “reunião” e não “organização” ou “sociedade”. Localidade era essencial ao seu caráter. A ekklësia local não era reputada como parte de alguma ekklësia de âmbito mundial, o que teria sido uma contradição de termos.
Fonte: O Novo Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, pág. 735.
DEFINIÇÃO DO TERMO “SINAGOGA”
A palavra SINAGOGA é um vocábulo grego, cujo significado é “reunião”. Funcionava da seguinte forma:
1. Como era a casa de culto dos judeus, lhes servia de Igreja, de tribunal e de escola, sendo dirigida por chefes ou anciãos locais: Marc. 5:22; Luc. 13:14; Atos 13:15; 18:8.
2. Estes chefes ou anciãos locais tinham a autoridade de impor castigos, incluindo o açoitamento, e a excomunhão temporária ou permanente: Mat. 5:22; 10:17; Marc. 13:9; Luc. 12:11; 21:12; II Cor. 11:24.
3. Faziam reuniões no sábado, segundas e quintas-feiras. O culto era dirigido por qualquer pessoa escolhida pelo chefe: Luc. 4:16; Atos 13:15.
4. As sinagogas instituídas depois do exílio, constituíam os mais importantes meios pelos quais se mantinham a instrução religiosa e a confraternização espiritual entre o povo.
Surge então a pergunta: O que a Igreja tem com a Sinagoga? O Conciso Dicionário Bíblico, da Imprensa Bíblica Brasileira, pág. 167, revela: “A organização das igrejas cristãs primitivas foi moldada segundo o padrão da sinagoga”.
Tal declaração se reveste de significativa importância quando estudamos o modo como funcionava e funciona uma Sinagoga.
Ensina o livro “O SER JUDEU”, do rabino Hayim Halevy Donin: “As sinagogas são instituições autônomas. Elas são fundadas, organizadas, mantidas e controladas localmente por qualquer grupo de judeus que desejam ter uma sinagoga. Cada sinagoga é independente da outra, e é regida por um grupo de pessoas eleitas à sua diretoria. Embora cada sinagoga seja subordinada nas suas práticas rituais ao Código de Leis Judaico, nada impede que ela estabeleça a sua própria política e as suas proceduras (procedimentos), em assuntos rituais e gerais. Existem, em certos países, organismos nacionais de sinagogas, aos quais a maioria das sinagogas é filiada, porém essas filiações são puramente voluntárias e não tem o poder de impor decisões nas congregações locais”.
Fonte: Alyah Letorah, Agosto/Outubro de 2000, pág. 60.
Uma vez que a organização das igrejas cristãs primitivas foi moldada segundo o padrão da sinagoga, como funcionava e deve funcionar o sistema de governo na Igreja?
Avelino Faria Fernandes, em seu livro A IGREJA DO NOVO TESTAMENTO, págs. 94-96, faz uma análise bíblica e histórica da organização da Igreja nos primeiros séculos:
“Nas igrejas do primeiro século, havia em cada uma delas, uma pluralidade de anciãos (presbíteros), cujas funções eram equivalentes (At. 14:23). Estes anciãos eram também chamados de pastores (Ef. 4:11) e bispos (Fp. 1:1; Tt. 1:5-7). A autoridade que eles exerciam não ultrapassava os limites da Igreja local. Jesus Cristo era o único Bispo, o Supremo Pastor sobre todas as igrejas (I Pe. 5:4).
No segundo e terceiro séculos foi-se desenvolvendo a idéia de um posto congregacional separado e acima do pastor. O ocupante do cargo mais elevado se chamava bispo, em sentido diferente do nome usado nas Escrituras (Tt. 1:5-7; I Pe. 5:1-4) para designar todos os anciãos. Mais tarde, foi feita outra adaptação na organização das igrejas e o bispo tornou-se o chefe de diversas igrejas compreendidas numa determinada zona. Por exemplo, o bispo da Igreja de Antioquia estava acima da autoridade do pastor de qualquer igreja situada na área dessa cidade.
Nessa altura, todos os bispos ainda tinham poderes equivalentes, pois, por exemplo, o bispo de Roma não tinha mais autoridade do que o bispo de Antioquia. Os bispos metropolitanos prestavam serviços nas capitais de certas províncias. Mais tarde, os bispos das Igrejas em Alexandria, Jerusalém, Roma, Antioquia e Constantinopla tornaram-se mais poderosos e transformaram-se em patriarcas, porém cada um tinha jurisdição apenas sobre a sua diocese. Em carta a Eulógio, bispo de Alexandria, Gregório I, bispo de Roma, afirmou que a Sé de Pedro em três lugares é a Sé de um. Frisou que estes três lugares onde a Sé de Pedro existia, eram Alexandria, Antioquia e Roma. E acrescentou que desde então a Sé de Pedro era sobre as outras”.
Em concordância com a análise de Avelino Faria Fernandes, o Conciso Dicionário Bíblico, da Imprensa Bíblica Brasileira, págs. 11 e 20, declara:
“Os anciãos, presbíteros ou bispos das igrejas primitivas eram moderadores ou pastores, escolhidos segundo o costume da sinagoga. Acredita-se que, desde o princípio, fossem eleitos pelo povo e, depois de aprovados pelos apóstolos, eram empossados com oração e imposição de mãos. Como pastores, seu trabalho consistia em: exercer vigilância espiritual sobre o povo, visitar os doentes, cuidar dos pobres e estrangeiros; manter a disciplina nas assembléias religiosas; ensinar e administrar os negócios da congregação em cooperação com os diáconos. No Novo Testamento os três títulos (heb. ancião; gr. presbítero; lat. bispo), são usados indistintamente para o cargo de pastor. Isto se explica pelo fato de que havia cristãos entre os judeus, gregos e romanos. Assim aconteceu até 150 d.C quando, pela primeira vez, os presbíteros eram subordinados aos bispos.
BISPO (gr. superintendente). No Novo Testamento, é um dos superintendentes de uma igreja; sinônimo de presbítero ou ancião. No segundo século, o dirigente ou moderador distinguiu-se como o primus inter pares (isto é, o primeiro entre seus iguais), entre seus co-anciãos, exercendo simultaneamente a superintendência com a instrução da igreja; por isso o nome de bispo veio a ser usado somente para designar essa pessoa”.
Todos estes comentários e depoimentos nos mostram que a Igreja primitiva tinha uma organização ministerial bem simples. A criação de cargos ou postos acima do pastor local foi fruto direto da apostasia e culminou com a formação do papado.
O Novo Dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, págs. 679-681, descreve com bastante propriedade a questão do Governo Eclesiástico:
“O Novo Testamento não prevê qualquer código detalhado de regulamentos para o governo da Igreja, e a própria idéia de tal código pode parecer repugnante para a liberdade da dispensação do Evangelho; no entanto, Cristo deixou atrás de Si um corpo de líderes (os apóstolos), por Ele mesmo escolhido, ao qual também forneceu alguns princípios gerais para o exercício de sua função reguladora.
O primeiro passo tomado pelos apóstolos, imediatamente após a ascensão de Cristo, foi preencher a vaga deixada pela traição de Judas, e isso fizeram mediante um apelo direto a Deus (At. 1:24-26). Outros foram posteriormente contados entre os apóstolos (Rm. 16:7; I Cor. 9:5,6; Gal. 1:19), mas as qualificações de ser testemunha ocular da ressurreição (At. 1:22), e de ter sido de algum modo comissionado por Cristo (Rm. 1:1,5), não eram de natureza a poderem ser perpetuadas indefinidamente. Quando a pressão do trabalho aumentou, fizeram escolher sete assistentes (At. 6:1-6), eleitos pelo povo e ordenados pelos apóstolos, a fim de que administrassem a caridade da Igreja; esses sete têm sido reputados como diáconos desde os tempos de Ireneu em diante, mas Felipe, o único cuja história posterior conhecemos com clareza, tornou-se evangelista (At. 21:8), com uma missão ilimitada de pregar o Evangelho.
Oficiais eclesiásticos com denominação distintiva são pela primeira vez encontrados nos anciãos de Jerusalém, os quais receberam dons (At. 11:30) e participaram do Concílio (At. 15:6). Esse ofício foi provavelmente copiado do presbitério das sinagogas judaicas; pois a própria Igreja é chamada de Sinagoga em Tiago 2:2, e os anciãos judaicos, aparentemente ordenados por imposição de mãos, eram os responsáveis pela manutenção da disciplina, com o poder de desligar os que desobedecessem à lei. O presbitério cristão, todavia, sendo um ministério evangélico, adquiriu deveres adicionais para pastorear (Tg. 5:14; I Ped. 5:1-3) e para pregar (I Tim. 5:17).
Foram ordenados anciãos para todas as igrejas da Ásia Menor por Paulo e Barnabé (At. 14:23), enquanto que Tito foi exortado a fazer o mesmo em relação às igrejas de Creta (Tt. 1:5); e embora os distúrbios em Corinto possam sugerir que uma democracia mais completa prevalecia naquela congregação (I Cor. 14:26), o padrão geral de governo eclesiástico na época apostólica parece ter sido uma junta de anciãos ou pastores, possivelmente aumentada por profetas e mestres, que governavam cada uma das congregações locais, tendo os diáconos como ajudantes da administração, e contando com a superintendência geral da Igreja inteira provida pelos apóstolos e evangelistas.
Nada existe nesse sistema neotestamentário que corresponda exatamente ao moderno episcopado diocesano; os bispos, quando são mencionados (Fp. 1:1), formavam uma junta de oficiais da congregação local, e a posição ocupada por Timóteo e Tito era a de ajudantes pessoais de Paulo em sua obra missionária. O que é mais provável é quando um ancião adquiria presidência permanente da junta, passava então a ser especialmente designado pelo título de bispo; porém, mesmo quando o bispo monárquico aparece nas cartas de Inácio, continuava sendo apenas o pastor de uma única congregação”.
O mesmo Dicionário, ao traçar o perfil da forma de governo da Igreja apostólica, estabelece cinco princípios gerais:
1. Toda a autoridade se deriva de Cristo e é exercida em Seu nome e no Espírito.
2. A humildade de Cristo provê o padrão para o serviço cristão (Mat. 20:26-28).
3. O governo é conjunto e não hierárquico (Mat. 16:19; 23:8; At. 15:28).
4. Ensinar e dirigir são funções intimamente associadas (I Tess. 5:12).
5. Ajudantes administrativos são necessários para ajudarem os pregadores da Palavra (At. 6:2,3).
Resumindo: Os apóstolos foram as colunas da Igreja em seus dias primitivos, pois tinham sido comissionados diretamente por Cristo. Posteriormente, outros também foram chamados de apóstolos, mas de um modo geral, não havia entre eles um chefe ou maioral (Mat. 20:20-28; 23:1-11; Mar. 10:35-45; Luc. 22:24-30; I Cor. 3:4-9,21-23). Quando aumentou o número dos discípulos, foi instituído o cargo de diácono (At. 6:1-6). Com a formação das igrejas ou congregações locais, havia em cada uma delas, uma pluralidade de anciãos, também chamados de presbíteros ou bispos. Estes eram auxiliados pelos diáconos, que cuidavam da provisão material da Igreja. A autoridade destes homens não ultrapassava os limites do lugar em que atuavam. Vivendo ainda os apóstolos, os tais exerceram uma superintendência espiritual sobre a obra, pois assim era necessário. Com a morte deles, as igrejas seguiram na direção de seus líderes locais, bem ao padrão da sinagoga judaica. Do segundo século em diante, começou uma série de modificações na organização das igrejas, estabelecendo-se um cargo acima do pastor local e criando-se o modelo diocesano, sistema em que um bispo possui autoridade sobre diversas igrejas de uma determina zona. Com a apostasia em pleno desenvolvimento, tal espírito culminou com a formação do papado.
O próprio Catolicismo Romano reconhece isto:
“A organização da hierarquia da Igreja foi lenta. No começo do cristianismo, havia apenas os padres ou presbíteros, encarregados da parte espiritual, e os diáconos, encarregados da parte material. Depois surgiram os bispos (vigilantes), com a missão de vigiar a integridade da doutrina e a prática do culto.
Os fiéis escolhiam os padres e os diáconos; estes escolhiam os bispos, que depois eram aprovados pelos fiéis, por aclamação. Já no fim do século I, notava-se uma grande separação entre os membros do clero e os fiéis, o que não acontecia nas origens da Igreja. Mas isso não impedia que muitos fiéis, atribuindo-se dons sobrenaturais, pregassem o Evangelho livremente, nas regiões mais retiradas do Império.
Com a expansão do Cristianismo, a Igreja adotou como modelo de sua administração a própria organização do Império Romano. A unidade principal da administração era a província. O bispo mandava na província. Para ajudá-lo na administração e nas funções sacerdotais, indicava diáconos e padres. Já no século II, foram criadas escolas para a formação de padres e diáconos.
Os bispos adotaram o costume de confirmar sua eleição pela aprovação dos demais bispos. O bispo da capital era chamado metropolitano; e os bispos das grandes cidades do Império, como Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla, eram chamados de patriarcas. O bispo de Roma, sucessor de São Pedro, passou a ter primazia sobre todos os demais bispos. É o papa, chefe da Igreja”.
Fonte: José Jobson de A. Arruda, História Antiga e Medieval, págs. 275 e 276
Seguiremos agora, com uma análise bíblica sobre a questão do sacerdócio, mostrando que:
1. Jesus Cristo é o Sumo Sacerdote e Sumo Pastor de nossas almas. Isto significa que todos os pastores estão subordinados diretamente a Ele (Heb. 3:1-6; 4:14; 6:19,20; 8:1,2; I Pe. 5:1-4).
2. Não existe, dentro do modelo apostólico, a idéia de um líder regional, nacional ou mundial. O trabalho missionário de Paulo e seus colaboradores não pode ser confundido com autoridade de um ministro sobre o outro (I Cor. 3:4-9;21-23).
3. Na Igreja o governo deve ser conjunto e não hierárquico. Desta forma, entendemos perfeitamente o sentido dos ensinos de Paulo (I Cor. 1:7, 3:21-23; 12:14-18,28-31).
Sobre as igrejas paulinas, O Novo Dicionário da Bíblia, pág. 738, esclarece:
“Não havia ligações organizacionais entre as igrejas fundadas por Paulo, ainda que houvesse afinidades naturais entre as igrejas de uma mesma província (Cl. 4:15,16; I Tes. 4:10). Esperava-se que todas se submetessem à autoridade de Paulo em questões de fé, mas tal autoridade era espiritual e admoestativa e não coerciva ( II Cor. 10:8; 13:10). A administração local e a disciplina era autônoma (II Cor. 2:5-10). Nenhuma congregação local possuía autoridade sobre as demais, embora todas reconhecessem Jerusalém como a origem das bênçãos espirituais (Rm. 15:27), pois a coleta para os santos pobres de Jerusalém foi um reconhecimento sobre isso”.
NO VELHO TESTAMENTO o sistema de governo era centralizado. O livro de Deuteronômio nos fornece inúmeras passagens que falam “do lugar que seria escolhido por Deus para ali pôr o seu nome”. A ele os israelitas deveriam levar os seus holocaustos, sacrifícios, dízimos e todo o tipo de oferta. A comemoração das festas anuais e o julgamento de questões difíceis, também tinham que se dar neste lugar, conforme nos mostra os seguintes textos: Deut. 12:4-14;16:16;17:8.
A lei da unidade de culto em um santuário central era tida pelos israelitas em tão alta conta, que um incidente nos dias de Josué, quase provocou uma guerra civil entre as tribos (Josué 22:10-34).
Quando os filhos de Israel tomaram posse de sua herança, o lugar escolhido por Deus para sua habitação foi a cidade de Siló (Jer. 7:12) e posteriormente Jerusalém (I Reis 11:36).
No entanto, este sistema centralizado criou uma barreira de separação entre Israel e os demais povos da terra. Os judeus não se comunicavam com os samaritanos e repudiavam completamente os gentios, tanto que nem comiam com estes. Desta forma, falharam em sua missão sacerdotal e tornou-se necessário uma descentralização:
“Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”. João 4:19-23
Tais palavras possuem um sentido de alcance mundial. A Igreja deveria começar por Jerusalém, mas chegaria até aos confins da terra, estabelecendo as bases do Reino Universal do Senhor (Luc. 24:46,47; Atos 1:8).
Uma comparação entre o Velho e o Novo Testamento, nos indica que tudo o que anteriormente era feito exclusivamente em Jerusalém, passou a ser feito nas igrejas locais:
Deuteronômio 12:13,14 Salmo 141:2; Apoc. 5:8; 8:3-5; I Tim. 2:8
Deuteronômio 12:5,6 Hebreus 13:15; I Pedro 2:4,5
Deuteronômio 12:5,6 II Cor. 11:7,8; Filipenses 4:14-16
Deuteronômio 16:16 I Cor. 5:7,8
Deuteronômio 17:1-8 I Cor. 5:12; 6:1-5; II Cor. 2:5-11
A HISTÓRIA DA IGREJA DE DEUS NA AMÉRICA nos prova que a mesma praticava o sistema de governo regido por autonomia local. De acordo com o que sabemos, foi no século XVII (1664-1671), que se estabeleceram as primeiras Igrejas de Deus nos Estados Unidos. Nestes tempos, havia somente igrejas locais e nenhum tipo de Organização formal. Em 1888 se estabeleceu a Sede da Igreja em Stanberry, Missouri. No entanto, esta funcionava apenas para manter as igrejas unidas e não como um meio de impor decisões nas congregações:
“A Conferência Geral deste tempo (década de 20), atuava como um meio para manter as Igrejas de Deus unidas, porém com um sentimento antiorganizacional. E este sentimento e modo de crer se publicava na revista O Advogado. Existem documentos em que a Igreja dos Estados Unidos em 1920 operava de forma autônoma. As igrejas e os ministros apoiavam e reforçavam o sistema de autogoverno dentro de cada igreja local.
No tempo do Ministro Dugger (décadas de 20 e 30) a Igreja teve certo avanço quanto a membresia, porém começou uma década de lutas ministeriais, pois a Igreja passou a experimentar reformas quanto à forma de manejar as finanças. Dugger observara que alguns ministros recebiam dízimos dos membros pelo correio. Para deter este fluxo de dízimos diretamente aos ministros, se empenhou em convencer os membros de todas as partes a que remetessem seus dízimos ao tesoureiro da Conferência Geral ou ao tesoureiro do Distrito. Isto fez com que os membros se confundissem a tal modo, que alguns enviavam a seus ministros, outros à Conferência Geral, e outros, por fim, retinham seus dízimos.
Os ministros que desejavam usufruir os dízimos em suas próprias igrejas, se empenharam a fortalecer a oposição contra a organização nacional, que afetava o sistema de governo local das igrejas.
Em 1927, na reunião da Conferência que teve lugar em Rich Hill, Missouri, se tomou a decisão de que não se aceitasse nenhuma doutrina que não fosse aprovada pela Conferência Geral. E se referiam mui especialmente ao fato das instruções bíblicas a respeito do governo interno na Igreja, e não um governo nacional, como fazia a Igreja Adventista.
O Ministro Dugger defendia um sistema centralizado, tanto que procurou estabelecer um governo na Igreja, encabeçado por 12 apóstolos, 70 profetas ou missionários e 7 diáconos universais. Os apóstolos seriam os sobrevedores da obra mundial e somente deixariam o cargo quando morressem; Os profetas seriam missionários que sairiam ao plano de evangelismo a outros países, de dois em dois; Os 7 diáconos seriam os administradores das finanças, tendo apoio a isto em Atos 6.
Por outro lado, um dos destacados ministros daqueles anos, que se chamava Frank M. Walker, liderou os ministros que se opunham a esta forma de administrar a Igreja”.
Fonte: Fragmentos Históricos da Igreja de Deus, págs. 54-57.
O Ministro Dugger foi responsável por uma divisão na Igreja de Deus dos Estados Unidos, pois não abriu mão de suas idéias centralizadoras. Já o Ministro Frank M. Walker, se opôs a este sistema de governo, e por ocasião de sua morte, nos chegaram as seguintes informações:
“Sentimos profundamente o passamento deste pioneiro da Igreja de Deus, ocorrido em 13 de setembro de 1997. A Igreja de Deus (7º Dia) no Brasil, no princípio de sua organização 1979/1984 aprendeu muito sobre profecias bíblicas com o Pastor Walker. Cerca de sessenta estudos que solicitamos nos fortaleceram e nos identificaram muito com a fé da Igreja de Deus. O Pastor Altair conheceu e se encontrou com este irmão em Meridian, em 1993 e 1995. Frank Walker nasceu em 21 de junho de 1902 em Mansfield, AK. Foi professor primário e tornou-se ministro evangélico, servindo no centro-oeste e noroeste americanos Em 1971 mudou-se para St. Maries, Idaho. Foi pastor da Igreja em Spokane, WA e em Coeur d’Alene, ID. De 1968 a 1970 ensinou profecia bíblica no Colégio Maranata, em Meridian, ID. Ficou conhecido como“O Atalaia de Deus” por todo o mundo, por seus muitos estudos e publicações. Estabeleceu a Igreja de St. Maries. Seu primeiro casamento foi com Flossie Belle King, em 13 de junho de 1924. Em 30 de outubro de 1982, viúvo, casou-se com a irmã Ruth Andrus. Imbatível e incansável pregou sentado, em 1995 no Concílio de Meridian. Seu funeral foi conduzido pelo Pastor Carl Palmer, de Spokane, WA – Estados Unidos. Nos orgulhamos do irmão Walker e esperamos reencontrá-lo no Reino Milenar Messiânico com outros heróis da fé”.
O Mensageiro Real, OGID-Curitiba, Novembro/97-Fevereiro/98, pág. 08.
NO BRASIL, a Igreja em seus primeiros anos se organizou sob o sistema de autonomia local. As congregações enviavam uma parte da arrecadação mensal à Organização Geral e se mantinham unidas pela prática da doutrina e conhecimento das profecias. Esta declaração é confirmada no Certificado de Afiliação que a Igreja brasileira recebeu da Igreja mexicana em 1979. Uma cópia deste Certificado aparece na apostila “Desafio sobre Linhagem”, pág. 41.
Em um Boletim Ministerial publicado em janeiro de 1998, o Ministro Altair Junqueira fez alguns comentários sobre a forma de governo que acreditava ser a mais indicada:
“A OGID permite que parte do dinheiro sagrado fique e seja administrado localmente. Nestes pontos funciona uma certa autonomia que julgamos ser saudável e útil às Igrejas em seu crescimento material e espiritual. Um equilíbrio entre uma liderança forte e dose de autonomia local é o caminho certo!”.
Agindo em desacordo com este pensamento que defendeu no passado, a Organização liderada por este Ministro adotou um sistema de contribuições que não permite as igrejas usarem nem mesmo uma parte dos dízimos arrecadados no local. O autor desta apostila, a princípio também apoiou e votou favorável a este sistema. No entanto, uma circular datada de 01 de agosto de 2000, com determinações totalmente antibíblicas e não aprovadas pelo ministério, fizeram com que houvesse uma reflexão a respeito do caso.
Alguns pastores e suas respectivas igrejas se uniram para não mais aceitarem as imposições autoritárias da administração de Curitiba. Mas esta, agindo sempre com meias verdades, procurou logo desmoralizar os obreiros que tiveram a ousadia de discordar.
Mas a história da Igreja de Deus em todas as épocas, nos mostra que o povo santo sempre lutou contra a tirania, a opressão e o despotismo. Além disto, alguns incidentes ocorridos nos últimos anos nos fazem crer que não precisamos estar ligados diretamente a uma Organização para termos o reconhecimento de Deus ao nosso ministério.
A Igreja de Deus no Brasil foi legitimada no ano de 1984 por obreiros do México e do Canadá. O representante mexicano, Ministro Carlos Garcia, esteve no Brasil algumas vezes, ministrando estudos sobre a linhagem da Igreja e a questão da divindade.
A partir de 1993, contrariando a pregação sobre autonomia, o Ministro Carlos Garcia começou a intervir em problemas da Igreja brasileira, tanto que em 19 de junho de 1995 redigiu uma carta de exclusão ao Ministro Altair. Esta famosa carta, ainda usada por adversários do Ministro excluído, foi assinada pelos membros do Conselho de Anciãos do México e assim declara em um de seus parágrafos:
“Com esta autoridade legal, lhe comunicamos que a partir desta data, você está legalmente destituído como membro e como ministro da Igreja de Deus no país brasileiro, desqualificado totalmente de todos os seus cargos oficiais, seus privilégios e concessões outorgados pela Conferência Geral da Igreja de Deus no México”.
Tal atitude dos ministros mexicanos reflete um problema que ocorre na Igreja de Deus de alguns países, inclusive no Brasil. Certas lideranças se julgam acima do bem e do mal, e acham que suas decisões, certas ou erradas, sempre terão o aval de Deus.
Desaprovamos totalmente as imposições do Ministro Carlos Garcia, mas também não aceitamos como suprema a autoridade do Ministro Altair Junqueira e sua equipe de Curitiba.
A forma de organização das igrejas cristãs primitivas mostram claramente que havia uma independência no comando da Igreja, tanto de um país para outro, quanto de uma cidade para outra. Nos dias apostólicos, a autoridade de um ancião não ultrapassava os limites de sua congregação. A Igreja é de Deus e não propriedade deste ou daquele.
Procurando amenizar a situação, o Ministro Bulmaro Gonzalez Hinojosa, em carta enviada do México ao Brasil em 15 de abril de 1996, fez a seguinte declaração:
“Quero dizer-lhe, irmão Junqueira, que ao serem ordenados ministros na Igreja de Deus, nada pode tirar-lhes esse privilégio que Deus os tem conferido, sempre que sustenham a doutrina do Senhor; salvo o caso de cometer um pecado de morte, dos que nos ensina a palavra de Deus. Nada, nenhum ministro, pode tirar de outro ministro, os privilégios que Deus o tem conferido através do Espírito Santo, sempre que este guarde sua vida em santidade, diante de Deus e dos homens”.
A Igreja de Deus nos dias atuais necessita de homens que tenham a mesma visão do Ministro Bulmaro!
A Organização com sede em Curitiba vem se esforçando por exercer um domínio quase que por completo em tudo o que se faz na Igreja. Exigem toda a arrecadação dos dízimos e mais a metade das ofertas vinculadas. Instituíram pena disciplinar para o membro que não ofertar pelo espaço de dois meses e que o mesmo tenha seu nome posto em uma lista de inativos, afixada no quadro de avisos da igreja local. Tais determinações não são bíblicas e se chocam até mesmo com a própria lei do país em que vivemos:
“É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Constituição Federal, Art. 5º Itens V e X
Foi este o motivo principal pelo qual passamos a questionar a autoridade desta Organização. A Igreja de Deus continua a mesma em nossas vidas e sua doutrina cada vez mais eficaz. Mas todo este compêndio de imposições humanas, em nada engrandecem a nossa missão, pelo contrário, nos aproxima do governo hierárquico e tirano, exercido pelo clero romano e personificado na nefanda inquisição.
Os pastores da Igreja de Deus não devem pecar por omissão, assistindo a tudo isto pacificamente e concordando com tais decisões. Devem ser valentes e corajosos, erguendo ao alto a bandeira da liberdade cristã.
Do mesmo modo que o Ministro Altair e sua equipe de Curitiba não reconhecem o desligamento que lhes foi imposto pelo Ministro Carlos Garcia e seu Conselho de Anciãos, também não reconhecemos qualquer suspensão imposta a nós por sua administração. Aconselhamos que estes obreiros venham a refletir e olhem para a Igreja como sendo a lavoura de Deus e não o quintal de suas casas.
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Evangelista Jesiel Lincoln dos Santos
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