segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rapto Secreto

Rapto Secreto
As surpreendentes origens da visão teológica dispensacionalista

por

Gerhard Pfandl



A data é um dia qualquer no futuro próximo. O lugar, um Boeing 747 voando sobre o Atlântico em direção a Londres. A maioria dos passageiros está dormindo ou fazendo qualquer outra coisa. Subitamente, quase metade deles desaparece no ar. Primeiro um, depois outro, então os que restam gritam enquanto percebem que o assento ao seu lado está vazio. Apenas os pertences de mão foram deixados. Os passageiros que ficaram gritam e choram, assustados. Os pais estão freneticamente procurando os filhos que desapareceram no meio do vôo.

Ficção científica? Não; essa é uma cena do primeiro volume de uma série intitulada Left Behind.[1] Escritos pelos autores cristãos Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, esses livros têm permanecido no topo da lista de best-sellers em Nova York. Eles estão baseados na teoria de que sete anos antes do segundo advento de Cristo, os fiéis cristãos serão trasladados, arrebatados para o Céu. Por que exatamente sete anos? Porque uma das colunas dessa teoria é que a última das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24 ainda está no futuro.

As raízes

As origens da teoria do arrebatamento secreto podem ser traçadas a partir do tempo da Contra-Reforma. Os reformadores protestantes no século 16 identificaram o papado como o anticristo da profecia.[2] Muitos eruditos jesuítas assumiram a tarefa de defender o papado contra esse ataque. O cardeal Robert Bellarmina (1542-1621), diretor do Colégio Jesuíta em Roma, buscou invalidar o princípio “dia-ano” da profecia como prova dos 1.260 anos de supremacia papal.[3]

O jesuíta espanhol Francisco Ribera (1537-1591) projetou a profecia do anticristo no futuro (futurismo), e outro espanhol, Luiz de Alcazar (1554-1613), defendeu que essas profecias já tinham se cumprido no tempo do Império Romano (preterismo).

O preterismo de Alcazar logo foi adotado pelo calvinista Hugo Grotius (1583-1645) na Holanda, e tornou-se o método favorito para interpretação da profecia bíblica entre os teólogos liberais.

Ribera aplicou as profecias do anticristo ao futuro anticristo pessoal que apareceria no tempo do fim e continuaria no poder por três anos e meio.[4] Por quase três séculos, o futurismo foi largamente confinado à Igreja Católica Romana, até que, em 1826, Samuel R. Maitland (1792-1866) bibliotecário do arcebispo de Canterbury, publicou um panfleto de 72 páginas [5] no qual promoveu a idéia de Ribera de um futuro anticristo. Logo outros clérigos protestantes adotaram a idéia e começaram a propagá-la amplamente. Entre eles estava John Henry Newman, líder do movimento Oxford, que depois tornou-se cardeal católico romano, e Edward Irving, famoso ministro presbiteriano escocês.

Dispensacionalismo

O futurismo de Ribera estabeleceu o fundamento para o dispensacionalismo, o qual ensina que Deus tem negociado diferentemente com a humanidade durante diferentes eras da história bíblica. John Nelson Darby (1800-1882) é usualmente considerado o pai do dispensacionalismo. Ele foi um advogado e pastor anglicano que, em 1821, desiludido com a frouxidão espiritual da Igreja, juntou-se a outro grupo religioso chamado Movimento dos Irmãos. Darby possuía uma mente brilhante. Não somente pregava fluentemente em francês e alemão, mas também traduziu o Novo Testamento para o alemão, francês e inglês. Foi autor de mais de 50 livros e, em 1848, tornou-se o líder do movimento.

Darby desenvolveu uma elaborada filosofia da História na qual ele a dividiu em oito eras ou dispensações, “cada uma das quais contendo uma ordem diferente pela qual Deus operou Seu plano redentivo”.[6] Além disso, Darby afirmava que a vinda de Cristo poderia ocorrer em dois estágios. O primeiro, um invisível “arrebatamento secreto” dos verdadeiros crentes fecharia o grande “parêntesis” ou a era da Igreja que começou quando os judeus rejeitaram a Cristo. Em seguida ao arrebatamento, as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel seriam literalmente cumpridas,[7] levando à grande tribulação que terminaria na segunda vinda de Cristo em glória. Nesse tempo, o Senhor estabeleceria um reino literal de mil anos sobre a Terra, tendo Israel como centro.

A visão escatológica de Darby figurou proeminentemente no fundamentalismo americano nos anos 20, quando cristãos conservadores defenderam o cristianismo protestante contra os desafios do darwinismo e da teologia liberal. Hoje, a maioria dos cristãos evangélicos aceita as principais colunas da escatologia de Darby.

O conceito de um arrebatamento antes do período da tribulação final, na verdade, não foi invenção de Darby. “Peter Jurieu em seu livro Approaching Deliverance of the Church (1687) ensinou que Cristo poderia vir para arrebatar os santos e retornar ao Céu antes do Armagedom. Ele falou de um arrebatamento secreto antes da Sua vinda em glória e o julgamento do Armagedom. O Comentário do Novo Testamento de Philip Doderidge e o Comentário, também sobre o Novo Testamento, de John Gill, usaram o termo “rapto” e a ele se referiram como iminente. É claro que esses homens criam que esse acontecimento precederia a descida de Cristo à Terra e o tempo do julgamento. O propósito era preparar crentes do tempo do julgamento.”[8]

A doutrina do arrebatamento foi disseminada ao redor do mundo, primariamente através do Movimento dos Irmãos e da Bíblia de Referência de Scofield. No século 20, foi ensinada em escolas como o Instituto Moody e no Seminário Teológico de Dallas. O Futuro do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, e muitos outros livros propagaram a teoria do arrebatamento secreto.

Investigando a teoria

A teoria do arrebatamento secreto está fundamentada em numerosas hipóteses. Devido às limitações de espaço, podemos investigar brevemente apenas duas delas: 1) que a septuagésima das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24-27 ainda está no futuro; e 2) que a Igreja não passará pela grande tribulação.

1. A septuagésima semana de Daniel 9:27

Embora a idéia de que a septuagésima semana de Daniel esteja ainda no futuro tenha aparecido primeiro nos escritos de Irineu (séc. 2 a.D.),[9] ela não desempenhou um papel significativo na teologia cristã até tornar-se uma coluna fundamental do dispensacionalismo no século 19. De acordo com essa visão, a 69ª semana termina com a entrada triunfal; e a 70ª “está separada das outras 69 por um período indefinido de tempo”.[10] Por qual razão? Porque a era da Igreja é vista como um parêntesis no plano de Deus, isto é, o relógio profético parou no domingo da Páscoa e voltará a bater depois do arrebatamento, quando Deus assumir a condução dos negócios com Israel no futuro.

Entretanto, não há razão lógica ou exegética para separar a 70ª semana das outras 69 semanas. Não existe nenhuma outra profecia de tempo nas Escrituras que tenha tal vácuo.[11]

O assunto nos versos 26 e 27 de Daniel 9 é o Messias, não o anticristo. De acordo com o verso padrão em Dan. 9:25 e 26, o príncipe da frase “o povo de um príncipe” pode também se referir a Jesus.[12] Mas embora o príncipe, no verso 26, se refira a Tito (como tipo do anticristo) e não ao Messias, ele não é o assunto do verso 27 porque, gramaticalmente, está em uma posição subordinada a “o povo”. É o povo que destrói o santuário e a cidade; não o príncipe. O “ele” do verso 27 deve reportar ao Messias no início do verso 26. Em Dan. 9:27, nós lemos que “Ele fará firme aliança com muitos”.

A expressão hebraica “cortar uma aliança” não é usada nesse texto. Ao contrário, o Messias, diz o texto, fortalecerá ou fará o concerto prevalecer. A referência não é a um novo concerto, mas a um concerto já feito. Se fosse o anticristo o autor dessa aliança com muitos, o profeta deveria ter usado a linguagem apropriada, ou seja, “mudar a aliança”.

Ao contrário da teoria dispensacionalista, a 70ª semana apresenta os pontos altos do ministério do Salvador.[13] Durante a primeira metade da semana, Ele fortaleceu ou confirmou o concerto através de Seus ensinamentos. Um exemplo disso é o sermão da Montanha, onde Jesus tomou uma seleção dos Dez Mandamentos aprofundando e fortalecendo o seu significado. Então, no meio da semana, Ele levou ao fim o significado teológico do papel dos sacrifícios, ao entregar-Se para a salvação da raça humana. Dessa forma, o concerto eterno foi confirmado e ratificado pela morte de Jesus Cristo.

2. A Igreja e a grande tribulação

De acordo com o dispensacionalismo, a tribulação depois do arrebatamento da Igreja durará sete anos. Seu propósito é “levar à conversão uma multidão de judeus”[14] que experimentarão o cumprimento da aliança de Israel. A base apresentada para apoiar esse conceito são as passagens de I Tes. 1:10; 5:9; Rom. 5:9; Apo. 3:10.

Cuidadosa exegese dos textos nas cartas aos romanos e aos tessalonicenses indica que “a ira vindoura” refere-se à ira de Deus que destruirá o ímpio por ocasião da segunda vinda [15] conforme indicado em II Tes. 1:7-10. Trata-se, portanto, da manifestação da ira de Deus no juízo final, não da tribulação precedente à vinda de Jesus. Paulo fala de esperarmos “dos Céus o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (I Tes. 1:10). É o segundo advento de Jesus, em cuja ocasião o arrebatamento terá lugar, que nos liberta da ira vindoura. Conseqüentemente, essa ira não pode vir antes do segundo advento.

A “hora da provação [peirasmos]” em Apo. 3:10 poderia se referir à grande tribulação, mas o texto não diz que o povo de Deus não a experimentará. A frase “Eu te guardarei” origina-se de duas palavras gregas: téréo eek. Téréo tem o significado de “velar”, “guardar”, “preservar”; [16] e a preposição ek significa basicamente “de”,17 referindo-se à vinda de alguma coisa ou de alguém. Outra preposição grega–apo–expressa a idéia de separação, “longe de”.[18]

Em Sua oração sacerdotal, Jesus diz: “Não peço que os tires do [ek] mundo, e sim que os guardes [téréo] do [ek] mal” (João 17:15). Ao orar para que os discípulos fossem guardados do mal, Jesus não estava dizendo que Satanás não poderia tentá-los. Simplesmente pede que o Pai guarde os discípulos em segurança, vele sobre eles, impeça que o inimigo tenha vitória sobre eles.

Semelhantemente, em II Ped. 2:9, o apóstolo escreve: “É porque o Senhor sabe livrar da [ek] provação [peirasmos] os piedosos....” O apóstolo não está dizendo que o povo de Deus estará longe [apo] da tentação, mas que Ele os livrará dela [ek] em meio ao processo de ser tentado. Da mesma forma, o apóstolo João em Apo. 3:10 não está dizendo que os crentes serão conservados longe da [apo] hora da provação, mas que eles estarão protegidos durante esse tempo.

Dessa maneira, nenhum dos textos usados para apoiar a idéia de que a Igreja não passará pela grande tribulação está realmente dizendo isso. Na verdade, as Escrituras ensinam claramente que os santos de Deus passarão pela grande tribulação (Mat. 24:9; Mar. 13:11; Luc. 21:12-19; Apo. 13:14-17).[19]

Tribulação e livramento

A teoria do arrebatamento secreto, de origem recente, tem capturado a imaginação de milhões de cristãos sinceros. Seu ensinamento central – que o cumprimento da 70ª semana profética de Daniel está ainda no futuro – é baseado em pressuposições extrabíblicas. Semelhantemente, o ensinamento de que a Igreja não experimentará a grande tribulação poupa os seres humanos do temor e do sofrimento, mas é contrário ao que diz a Bíblia.

De acordo com as Escrituras, a Igreja passará pela grande tribulação, mas será liberta através do arrebatamento, por ocasião da segunda vinda de Jesus.

Referências

1. Tyndale House Publishers, Wheaton, Illinois.
2. Martinho Lutero, por exemplo, disse: “Eu creio que o papa é o demônio
mascarado e encarnado, porque ele é o anticristo”. Sämtliche Schriften, S.Louis: Concordia Pub. House, 1887, vol. 23, pág. 845.
3. L. R. Conradi, The Impelling Force of Prophetic Truth, Londres: Thynne and B. Co., Ltd., 1935, pág. 346.
4. Ibidem, vol. 2, págs. 489 a 493.
5. An Enquiry Into the Grounds on Which the prophetic Period of Daniel and St. John has been supposed to Consist of 1260 Years, 2ª ed., Londres, 1837, pág. 2.
6. Walter A. Elwell, Evangelical Dictionary of Theology, Grand Rapids: Baker Book House, 1984, pág. 292.
7. Essa visão ignora completamente a natureza condicional de muitas profecias do Antigo Testamento (Deut. 28:1 e 15; Jer. 4:1; 18:7-10).
8. Mal Couch (editor), Dictionary of Premillennial Theology: A Practical Guide to the People, Viewpoints and History of Prophetic Studies, Grand Rapids: Kregel Publications, 1996, pág. 346.
9. Irineu, Against Heresies 5.25.3, vol. 1, pág. 554.
10. J. Dwight Pentecost, Things to Come, Grand Rapids: Zoondervan, 1958, pág. 247.
11. Nenhuma das supostas profecias com vácuos, enumeradas por Pentecost, são tempos proféticos. Todas elas estão baseadas na idéia de que as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel deverão ser cumpridas literalmente no futuro.
12. W. H. Shea, Daniel 7-12, Nampa, Idaho: Pacific Press Pub. Association, 1996, págs. 75 e 76.
13. No pensamento dispensacionalista, a morte de Cristo não ocorre dentro das 70 semanas. “A extinção do Messias tem lugar apenas uns poucos dias após terminada a 69ª semana” (J. Dwight Pentecost, Op. Cit., pág. 248), e cerca ]de dois mil anos antes do início da 70ª semana, algum dia no futuro.
14. Ibidem, pág. 237.
15. John Stott, Romans, Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1994, pág. 146; Charles Wanamaker, Commentary on 1 & 2 Thessalonians, Grand Rapids, MI.: Wm. B. Eerdmans Pub., 1990, pág. 88.
16. W. F. Arndt, e F. W. Gingrich, “Téréo”, A Greek-English Lexicon, Chicago: University of Chicago Press, 1979.
17. Ibidem, “Ek”.
18. Ibidem, “Apo”.
19. Dizer que esses textos se referem ao remanescente judeu e não à igreja (J. Pentecost, Op; Cit., págs. 278 e 238) é argumentar com base na hipótese de que Deus cumprirá literalmente Suas profecias relacionadas a Israel.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Dom de Línguas


 


I – INTRODUÇÃO


Este tema, abordado numa linguagem simples e objetiva, além de relevante traz informações que contribuem
para formação de um entendimento claro e harmonioso segundo o ensinamento das Escrituras Sagradas.
O assunto em pauta faz parte dos dons espirituais. Eles têm a finalidade de edificar a Igreja toda e não
beneficiar particularmente um membro aqui ou acolá. O apóstolo Paulo foi muito enfático ao declarar que
“cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos.” I Coríntios 12:7.
Outro propósito dos dons é dinamizar a igreja para a tarefa de evangelizar o mundo. Antes de Jesus
ascender ao Céu, Ele pronunciou palavras aos Seus discípulos que modificaram a história do mundo: “Ide
por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura.” Marcos 16:15. O Senhor Jesus incumbiu Seus
discípulos de pregar “o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações, começando por
Jerusalém.” Lucas 24:47. Os discípulos certamente imaginaram que essa seria uma tarefa impossível. Por
isso, logo em seguida, Jesus acrescentou: “E eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai; ficai, porém,
na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” Lucas 24:49.
Dentre os vários dons espirituais relatados nas Escrituras Sagradas, dirigiremos a nossa atenção para o
“dom de línguas”, o qual foi efetivamente incluído entre os dons espirituais durante o ministério apostólico,
conforme está escrito: “A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar
profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros,
governos, variedades de línguas.” I Coríntios 12:28.
Qual a diferença entre o verdadeiro dom de línguas e o falso?
II - O DOM DE LÍNGUAS NO PENTECOSTES
O dom de línguas foi concedido à nascente Igreja Cristã, quando cerca de 120 membros estavam reunidos
no cenáculo, em Jerusalém, no dia de Pentecostes. Estavam lá os apóstolos e mais algumas pessoas (ver
Atos 1:13 e 14). De repente veio do céu um ruído como que de um vento impetuoso, que encheu toda a casa
onde eles estavam sentados e lhes apareceram línguas como de fogo e que pousaram sobre cada um deles.
E todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (do grego: glossa)
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (ver Atos 2:2-4).
A palavra grega “glossa” significa: “língua estrangeira” ou “uma linguagem de um povo de outra
nacionalidade”.
Em seguida, o relato bíblico nos fornece dados importantíssimos:
“Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do céu.
Ouvindo-se, pois, aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na
sua própria língua (do grego: dialekto). ...Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua (do
grego: dialekto) em que nascemos?” Atos 2:5 e 6.
A palavra grega “dialekto” tem o significado de: “variedade regional de um idioma usado por um povo em
particular”.
Esses judeus (naturais e prosélitos) vieram de vários países, conforme relatado em Atos 2:9-11. Percebe-se
através deste episódio que o “dom de línguas” não era uma fala que ninguém podia entender. Muito ao
contrário, cada judeu ouviu a mensagem em seu dialeto. Nesse caso não havia necessidade do “dom da
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interpretação”.
III - O DOM DE LÍNGUAS NA IGREJA DE CORINTO
O apóstolo Paulo pregou pela primeira vez a mensagem do Messias em Corinto durante sua permanência de
um ano e meio lá, em 50-51 d.C., quando ele reuniu uma congregação formada de judeus e gentios nesse
centro comercial do sul da Grécia. Dirigindo-se aos membros da Igreja de Corinto, o apóstolo Paulo escreveu
que eles foram enriquecidos “em toda a palavra e em todo o entendimento.” I Coríntios 1:5. Além disso, Deus
lhes proporcionou uma abundância de poder em suas vidas a tal ponto que não lhes faltaram os dons
espirituais.
Porém, a ética da Igreja de Corinto deixou muito a desejar. A exuberância dos dons espirituais não gerou
uma Igreja santa e irrepreensível conforme a confiança demonstrada pelo apóstolo Paulo (ver I Coríntios 1:8).
Pelo contrário, foi uma Igreja comprometida seriamente com:
a) carnalidade (I Coríntios 3:1; 5:1-3);
b) imaturidade e infantilidade (I Coríntios 3:1 e 2);
c) Ciúmes, contendas e divisões (I Coríntios 1:11-13; 3:3 e 4);
d) Demandas judiciais na justiça comum (I Coríntios 6:1-8);
e) Incontinência e desregramento na Ceia do Senhor (I Coríntios 11:17-22);
f) Pecado de incesto (I Coríntios 5:1).
As declarações do apóstolo Paulo foram bastante contundentes. Sem margem de dúvida, a situação da
igreja de Corinto contrastava com a pureza e profunda espiritualidade vivida pela Igreja de Deus no dia de
Pentecostes.
Todavia, na Igreja de Corinto ocorreu um estranho fenômeno pentecostal, nada parecido com o que
aconteceu em Jerusalém no dia de Pentecostes. As diferenças são enormes e profundas. Algumas pessoas
falaram línguas com o objetivo de edificarem a si mesmas (I Coríntios 14:4). Este tipo de manifestação nada
tinha a ver com os dons espirituais dados por Deus, que tinham como objetivo a edificação da Igreja,
conforme relatado em I Coríntios 12. Os dons espirituais, inclusive o de línguas, são dados por Deus
espontaneamente, a cada um como Ele quer e para o que for útil, segundo a Sua soberana vontade e Seus
propósitos e não segundo o desejo do homem (ver I Coríntios 12:7-11, 18 e 28-31).
Falar “línguas” significa falar “idiomas estrangeiros”. É a faculdade sobrenatural de se expressar em formas
definidas de linguagem os idiomas de povos e nações deste mundo.
O apóstolo Paulo repreendeu a Igreja de Corinto por ter se utilizado de um artifício não recomendado por
Deus. Eles falaram em línguas que não eram entendidas por aqueles que falavam e nem por aqueles que as
ouviam e por isso nada serviam a não ser para trazer desordem na Igreja (ver I Coríntios 14:9 e 23). Ele
recomendou que se alguém “falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e cada um por sua
vez, e haja um que interprete.” I Coríntios 14:27. Era desejo do apóstolo Paulo que a Igreja orasse com
entendimento, cantasse com entendimento e falasse com entendimento, pronunciando palavras bem
inteligíveis. Em suma, que as pessoas adorassem e louvassem a Deus em sua plena consciência, pois isto
envolve o homem todo, suas faculdades emocionais, espirituais, físicas e mentais (ver I Coríntios 14:7, 9 15
e 19). Na carta aos romanos, Paulo escreveu que o nosso culto deve ser racional (Romanos 12:1). Ele
preferia dizer cinco palavras com a sua inteligência, para instruir os outros, do que dizer dez mil palavras em
outra língua (ver I Coríntios 14:19).
O próprio apóstolo Paulo falava fluentemente cinco idiomas: hebraico, aramaico, grego, latim e
possivelmente o copta. Todos esses idiomas eram línguas humanas existentes. Por isso categoricamente
ele afirmou dar graças a Deus por falar em línguas mais do que todos os que faziam parte da Igreja de
Corinto (ver I Coríntios 14:18).
O entendimento que o apóstolo Paulo tinha sobre o verdadeiro dom de línguas era correto, tanto é que ele
introduziu neste contexto uma profecia de Isaías 28, que trata sobre línguas estrangeiras: “Está escrito na
lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim Me ouvirão,
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diz o Senhor.” I Coríntios 14:21. Portanto, nem o profeta Isaías e nem o apóstolo Paulo estavam se referindo
a um outro tipo de línguas, se não idiomáticas, uma vez que em Isaías 28 vemos o anúncio do castigo de
Efraim e Judá (invasão da Assíria) e no verso 11 deste mesmo capítulo o Senhor disse que “por lábios
estrangeiros e por outra língua” falaria ao povo de Deus. Esta descrição aponta diretamente para uma
linguagem humana existente.
O fenômeno espiritual ocorrido na Igreja de Corinto foi particular, individual, ininteligível e misterioso, sendo
mais problemático do que edificante. O que causa estranheza é o fato que aquela manifestação tinha que
ser controlada pelo dirigente litúrgico e estar submetida às suas ordens (I Coríntios 14:28). Bem diferente do
que ocorreu no Pentecostes, onde o verdadeiro Espírito de Deus atuou livre e soberanamente, sem nenhum
limite, restrição e regulamento.
O fenômeno ocorrido na Igreja de Corinto não serve de exemplo para o povo que deseja servir a Deus. Se
Deus usou no passado uma jumenta para chamar a atenção de Balaão, com palavras que ele conseguiu
entender, porque Ele haveria de usar atualmente os seres humanos para transmitir palavras desconexas,
ininteligíveis e misteriosas? É algo a se pensar!
IV - AS PRÁTICAS DO PENTECOSTALISMO MODERNO
Infelizmente muitos segmentos religiosos estão interpretando mal os fatos ocorridos em Jerusalém e na
Igreja de Corinto. Os modernos movimentos pentecostais ou carismáticos nada têm a ver com os
verdadeiros ensinamentos da Palavra de Deus.
As falsas manifestações do “dom de línguas” serão eliminadas se forem aplicadas corretamente todas as
normas bíblicas sobre o assunto, quanto a sua natureza, finalidade e prática.
Os adeptos dos citados movimentos pretendem que o dom de línguas consiste no balbuciar desconexo de
uma espécie de palavras e sons incoerentes e sem sentido, proferidas em estado de êxtase espiritual, como
se fossem línguas estranhas, misteriosas e completamente desconhecidas pelos homens. A fala deles é
extática, ininteligível e sem interpretação. Muitas vezes esses fenômenos são acompanhados de tremores,
arrepios, conduzindo a pessoa e os que estão próximas dela a um êxtase de alegria tal que elas sentem a
necessidade de, durante as reuniões de culto, gritar expressões de júbilo bem conhecidas por todos.
O verdadeiro culto a Deus, no entanto, é prestado com entendimento, clareza de raciocínio, discernimento,
conhecimento e também com ordem e decência.
V – MANIFESTAÇÕES DO DOM DE LÍNGUAS NOS DIAS APOSTÓLICOS
O autêntico dom de línguas foi necessário nos dias apostólicos e serviu como um sinal para os incrédulos
judeus (ver I Coríntios 14:22). Os judeus tinham por costume pedir sinais (ver I Coríntios 1:22; Mateus 12:38;
Mateus 16:1). A esse respeito Jesus disse: “Se não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis.” João
4:48.
Esse dom ocorreu no Novo Testamento apenas em 3 ocasiões:
a) No dia de Pentecostes (Atos 2:4)
No dia de Pentecostes cumpriu-se a promessa feita por nosso Senhor Jesus aos Seus discípulos, conforme
relatado em Lucas 24: 49 – “E eis que sobre vós envio a promessa de Meu Pai; ficai, porém, na cidade, até
que do alto sejais revestidos de poder.” Esta mesma promessa foi proferida por Jesus (ver Atos 1:4) e foi
dirigida àqueles que ali estavam reunidos momentos antes de Sua ascensão. Disse-lhes Jesus: “Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém,
como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da Terra.” Atos 1:8.
b) Em Cesaréia na casa de Cornélio (Atos 10:46)
O dom de línguas nesta ocasião serviu para quebrar o preconceito que os judeus tinham sobre a aceitação
de gentios no reino de Deus. Tanto é assim que a Igreja da Judéia desejou ter mais informações sobre o
ocorrido (ver Atos 11:1-18). De acordo com as palavras do apóstolo Pedro, o derramamento do Espírito
Santo sobre o gentio Cornélio e os de sua casa, era idêntico ao que ocorreu no pentecostes (Atos 11:15). O
mesmo dom de línguas, agora na casa de Cornélio, devia servir para remover quaisquer dúvidas por parte dos
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judeus incrédulos.
c) Após a imposição de mãos de Paulo sobre os 12 discípulos em Éfeso (Atos 19:6)
O dom serviu para ajudar aqueles discípulos a pregarem o Evangelho na cidade de Éfeso, conhecida pela
importância de seu porto e pela grande passagem de pessoas de todas as regiões e de outras nações
também.
Nos outros casos relatados nas Escrituras o recebimento do Espírito não foi acompanhado do dom de
línguas (ver Atos 8:35-39; Atos 9:1-9; Atos 4:31-33; Atos 16:13-15; Atos 16:30-34).
O dom de línguas estava ligado ao ministério apostólico, durante a consolidação e divulgação do Evangelho
entre os judeus e estendeu-se até a entrada dos primeiros gentios. Tanto isto é verdade que, quando Paulo
escreveu a respeito dos dons espirituais aos romanos (aproximadamente em 57 d.C., durante sua
permanência de três meses na Grécia) e aos efésios (aproximadamente em 59 d.C.), ele não incluiu mais o
dom de línguas em seus escritos:
“De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a
medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou que exorta, use
esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de
misericórdia, com alegria.” Romanos 12:6-8.
“E Ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como
pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação
do corpo de Cristo.” Efésios 4:11 e 12.
Quando o apóstolo Pedro escreveu sua primeira epístola (aproximadamente em 64 d.C.), ele também não
incluiu o dom de línguas ao referir-se aos dons que Deus concedeu ao Seu povo:
“Servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme
graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre
segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e poder para todo o sempre. Amém” I Pedro 4:10 e 11.
Nenhum registro há na Bíblia de que tenha havido alguma outra manifestação do verdadeiro dom de línguas
além destas 3 ocasiões anteriormente mencionadas.
VI - CONCLUSÃO
De acordo com o apóstolo Paulo, a igreja precisa procurar com zelo os maiores dons (ver I Coríntios 12:31).
Para a Igreja de Éfeso ele destacou os mais importantes: o de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e
mestres. O objetivo era para que houvesse “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, ao estado de homem perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais
sejamos meninos inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens,
pela astúcia tendente à maquinação do erro, antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo.” Efésios 4:12-15.
Ao tratar sobre conhecimento ou a maturidade espiritual do homem, o apóstolo Paulo diz que “quando vier a
perfeição, o que é limitado desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como
criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da
criança.” I Coríntios 13:10 e 11.
Quando o homem atingir esta perfeição ou esta maturidade espiritual, através o pleno conhecimento do
Evangelho, ele estará plenamente desenvolvido e amadurecido. Só então ele estará apto para exercer a
suprema excelência do amor, o qual é superior a todos os dons. Diz mais o apóstolo Paulo: “Ainda que eu
falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como
címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a
ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada
seria. ...Agora pois permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.” I
Coríntios 13:1, 2 e 13.
30/05/12 Verdade em foco
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O objetivo do Evangelho é restaurar no homem a imagem perdida de Deus. O Espírito de Deus é concedido
para reproduzir em nós as virtudes de Jesus: amor, alegria, paz, longanimidade, mansidão, domínio próprio
(ver Gálatas 5:22, 23). Ao ser consumado em nós a Sua obra, poderemos dizer com o apóstolo Paulo: “Já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” Gálatas 2:20.
Igreja de Deus (Sétimo Dia) de Blumenau/SC
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Os Sete Selos do Apocalipse



Profecias do Apocalipse 



I – INTRODUÇÃO
O capítulo seis do Livro do Apocalipse é uma continuação da visão que o profeta João teve a respeito do livro selado
com sete selos, apresentado a ele no capítulo anterior. O livro foi visto nas mãos do Deus Todo Poderoso e foi em
seguida entregue a uma única pessoa achada digna em todo o universo de abri-lo e remover os seus sete selos. Esta
pessoa é identificada como sendo o “Cordeiro que foi morto”, “Leão da Tribo de Judá”, “Raiz de Davi” (Apocalipse 5:5 e
6), símbolos representativos de nosso amado Salvador, Jesus Cristo. Toda a criatura, na vastidão universal sem fim,
prorrompeu uníssona as merecidas ações de graças, honra, glória e poder ao Deus Todo Poderoso que estava
assentado no trono e ao Seu Filho, o único digno de abrir o livro e revelar o seu conteúdo (Apocalipse 5:13 e 14).
Ao serem abertos os sete selos, cenas fascinantes passaram a ser descritas numa seqüência profética e cheia de
simbolismos, num estilo de cenas vivas e animadas, relacionadas à ascensão, transformação e decadência do Império
Romano e suas horrendas perseguições ao povo remanescente de Deus. Os sete selos revelam detalhes a respeito
do período histórico daquele poder representado simbolicamente pela primeira besta que subiu do mar, conforme
Apocalipse 13.
II – A ABERTURA DOS SETE SELOS
PRIMEIRO SELO – CAVALO BRANCO
“E vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos, e ouvi um dos quatro seres viventes dizer numa voz como de trovão:
Vem! Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu
vencendo, e para vencer.” Apocalipse 6:1 e 2.
Nos dias da inspiração do Apocalipse, o cavalo era um emblema da força, combinada com sua rapidez. A cor branca
do cavalo, neste caso, não representa pureza, mas paz.. Alguns sinceros cristãos cometem um sério equívoco de
interpretação quando associam o cavalo e o cavaleiro de Apocalipse 6:2 com Apocalipse 19:11-16. Defendem eles
que, por ser branco o cavalo, o cavaleiro necessariamente deve ser entendido como sendo o Senhor Jesus Cristo. É
muito estranha tal conclusão, pois o texto sob análise não apresenta traços fisionômicos que identificam o cavaleiro e
nem a cor da roupa dele. Apenas cita que ele tinha um arco e foi-lhe dada uma coroa. Este cavaleiro não poderia ser o
nosso Senhor Jesus Cristo, pois Ele não participaria de nenhum grupo de cavaleiros portadores de maus presságios.
Esse conjunto formado pelo cavalo branco, arco e coroa são símbolos de vitória. Demonstra simbolicamente os áureos
tempos do Império Romano, que se sustentou pela força de seu poder. Todas as nações que estavam sob o seu
domínio tinham que obedecer e todos os habitantes viviam sob as suas regras e autoridade.
O Império Romano assumiu a sua posição de liderança mundial a partir de 168 a.C., mas seu período conhecido como
“idade de ouro” teve início no final do primeiro século depois de Cristo. Foi entre os anos 96 a 180 d.C. que Roma
atingiu o seu auge, desfrutando relativa paz e prosperidade política, militar e econômica. A respeito deste período, a
história registra o seguinte:
“Durante perto de um século a ordem reina no mundo romano; a paz é assegurada nas fronteiras; o Império conhece a
idade de ouro da sua prosperidade.” Universo e Humanidade, p. 147.
Neste período governaram os chamados “cinco bons imperadores”, sendo Nerva (96 a 98), Trajano (98 a 117), Adriano
(117 a 138), Antonino Pio (138 a 161) e Marco Aurélio (161 a 180).
No entanto, a exemplo de Babilônia, o Império Romano haveria de sucumbir, não somente por causa da sua soberba e
opulência, mas também por seu ódio e inimizade contra Deus. Com a abertura dos próximos selos, inicia-se a
decadência desse poderoso Império.
SEGUNDO SELO – CAVALO VERMELHO
“Quando ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizer: Vem! E saiu outro cavalo, um cavalo vermelho; e
ao que estava montado nele foi dado que tirasse a paz da terra, de modo que os homens se matassem uns aos outros,
e foi-lhe dada uma grande espada.” Apocalipse 6:3 e 4.
O segundo selo, em contraste com o primeiro, apresenta um Cavalo Vermelho, cuja cor revela guerra ou discórdia. Ao
cavaleiro que estava montado nele “foi dado que tirasse a paz da terra”, aquela paz que havia nos áureos tempos do
Império Romano, simbolizada pelo Cavalo Branco. A cor vermelha na profecia tem o significado de derramamento de
sangue: Isaías 63:1-6. O seu cavaleiro possuía uma grande espada. Espada indica matança: Isaías 34:5 e 6; 66:16;
Jeremias 25:31; 50:35-37; Ezequiel 21:28.
Com a chegada da dinastia dos “Severos” ao poder imperial a partir de 193 d.C., teve início um período de turbulência,
que chegou ao auge em 235 d.C.. A dinastia dos “Severos” foi constituída por imperadores, entre os quais quatro se
destacaram: Sétimo Severo (193 a 211 d.C.), Caracala (211 a 217 d.C.), Heliogábalo (218 a 222 d.C.) e Alexandre
Severo (222 a 235 d.C.). A partir de 235 d.C. começou a mais profunda crise do Império Romano, da qual ele saiu
completamente transformado cinqüenta anos depois. Nesse conturbado período conhecido como “anarquia militar”, de
235 a 285 d.C., Roma conheceu uma rápida sucessão de mais de vinte imperadores, dos quais apenas um morreu de
morte natural. Em constantes motins, o exército romano estava dividido em facções rivais, que proclamavam os
imperadores com a mesma facilidade com que os assassinavam. Assim, pois, a expressão bíblica “de modo que os
homens se matassem uns aos outros” nos confirma a exatidão da profecia.
TERCEIRO SELO – CAVALO PRETO
“Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: Vem! E olhei, e eis um cavalo preto; e o que estava
montado nele tinha uma balança na mão. E ouvi como que uma voz no meio dos quatro seres viventes, que dizia: Um
queniz de trigo por um denário, e três quenizes de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.”
Apocalipse 6:5 e 6.
O cavalo preto e seu cavaleiro simbolizam a escassez, carestia e fome. Na verdade são conseqüências da guerra civil.
A fome e a escassez são representadas na Palavra de Deus pela cor preta, conforme Lamentações 4:1-9. Os
alimentos vendidos a peso, trazem o mesmo significado: Levítico 26:26 e Ezequiel 4:16 e 17. A balança na mão do
cavaleiro é uma clara referência ao comércio.
Nas versões revisadas de João Ferreira de Almeida encontramos o seguinte comentário de rodapé sobre Apocalipse
6:6: “Um queniz, medida de cerca de um litro, por um denário, que valia um dia de trabalho, indicava grande escassez
do artigo.”
Após atravessar um período de luxo e prosperidade, o Império Romano mergulhou numa fase considerada amarga.
Devido à cobrança de altas taxas de impostos e devido à ineficiência e desonestidade dos funcionários do governo,
Roma teve que administrar sérios problemas. Este cenário fez aprofundar o distanciamento do rico em relação ao
pobre. Não conseguindo arrecadar fundos suficientes com a cobrança de impostos, o Estado passou a emitir dinheiro
e com isso ele provocou a subida dos preços dos principais produtos alimentícios, como o trigo e a cevada,
considerados básicos e essenciais. Estabeleceu-se assim a inflação, um fenômeno que fez o dinheiro valer cada vez
menos, criando enormes dificuldades principalmente às pessoas menos favorecidas.
Porém, o texto bíblico menciona que o azeite e o vinho não deveriam ser danificados. A disponibilidade destes
produtos de luxo e considerados não essenciais, seria uma indicação de que as classes média alta e rica, esteios
financeiros do Império Romano, passariam por momentos muito difíceis.
QUARTO SELO – CAVALO AMARELO
“Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizer: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que
estava montado nele chamava-se Morte; e o hades seguia com ele; e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da
terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com as feras da terra.” Apocalipse 6:7 e 8.
O cavaleiro que estava montado sobre o cavalo amarelo foi o único que recebeu nome. O nome dele era: “morte”. A
morte é a conseqüência imediata dos quatro juízos de Deus: espada, fome, peste e feras da terra, os quais também
aparecem registrados em Ezequiel 14:12-23:
“Filho do homem, quando uma terra pecar contra Mim, agindo traiçoeiramente, então estenderei a Minha mão contra
ela, e lhe quebrarei o báculo do pão, e enviarei contra ela a FOME, e dela exterminarei homens e animais; ...Se Eu
fizer passar pela terra BESTAS FERAS, estas assolarem, de modo que ela fique desolada, sem que ninguém possa
passar por ela por causa das feras; ...Ou se Eu trouxer a ESPADA sobre aquela terra, e disser: Espada, passa pela
terra; de modo que Eu extermine dela homens e animais; ...Ou se Eu enviar a PESTE sobre aquela terra, e derramar o
Meu furor sobre ela com sangue, para exterminar dela homens e animais; ...” Ezequiel 14:13, 15, 17 e 19.
Tais como no livro de Ezequiel, estes mesmos juízos de Deus aparecem no quarto selo, trazendo a morte sobre a
quarta parte da Terra. Eles nada mais são do que prenúncios da derrocada do Império Romano, por causa de suas
violentas ações opressivas contra o remanescente povo de Deus. As guerras, a fome, as pestes e as invasões dos
povos bárbaros foram decisivas para o enfraquecimento desse poder. As palavras proféticas tiveram seu cumprimento
já a partir do final do segundo século, quando o Império Romano foi sacudido por uma série de infortúnios e se
estendeu até a sua derrocada final. É a chamada causa e efeito.
“A guerra prolongada contra os insurretos na parte oriental e uma peste devastadora tinham exaurido o exército de
soldados e de dinheiro. Pior, ainda, várias tribos germânicas haviam se juntado para invadir as províncias ao sul do
Danúbio.” Depois de Jesus o Triunfo do Cristianismo, p. 142.
Neste período da história o Império Romano transformou-se numa ditadura militar e como conseqüência agravaram-se
as perseguições contra aqueles que não venerassem os deuses tradicionais do Estado..
QUINTO SELO
“Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e
por causa do testemunho que deram. E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e
verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um deles
compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda por um pouco de tempo, até que se completassem o
número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos, como também eles o foram.” Apocalipse 6:9-11.
Com a abertura do quinto selo, os mártires pedem vingança. São os mártires que foram mortos durante as
perseguições de Roma Pagã. Mas como os mártires pediriam vingança se eles estavam mortos? Os clamores
simbólicos dos mártires são idênticos aos clamores apresentados em:
a) Gênesis 4:10 – “E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão está clamando a Mim desde a terra.”
b) Hebreus 11:4 – “Pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício que Caim, pelo qual alcançou testemunho
de que era justo, dando Deus testemunho das suas oferendas, e por meio dela depois de morto, ainda fala.”
c) Habacuque 2:11 – “Pois a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento.”
d) Tiago 5:4 – “Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos
clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.”
e) Lucas 19:40 – “Ao que Ele respondeu: Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão.”
Os cristãos multiplicaram-se rapidamente. O próprio Império foi em parte responsável pela expansão da fé. Como o
Estado empobrecera demais para oferecer assistência aos cidadãos necessitados, principalmente aos órfãos e idosos,
os cristãos esforçaram-se a prestar-lhes auxílio, imitando na vida pessoal o amor de Jesus. A presença dos cristãos
consistia numa ameaça à hegemonia imperial romana, por recusarem prestar culto aos deuses de Roma. Esta
desobediência por parte dos cristãos era interpretada como quebra da “pax deorum” (paz dos deuses). Por isso, cada
vez que infortúnios ocorriam no Império Romano, os cristãos eram considerados culpados. Dez grandes perseguições
ocorreram, lideradas pelos Imperadores Nero, Domiciano, Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio, Sétimo
Severo, Décio, Valeriano e Diocleciano, durante o período de 64 d.C até o ano 313 d.C., quando foi assinado o Édito
de Milão pelo Imperador Constantino. A perseguição comandada pelo Imperador Diocleciano foi a última e mais
sangrenta de todas as perseguições. Ela é conhecida na história como “A Grande Perseguição”.
Convém enfatizar que os mártires destas perseguições são da época do Império Romano Pagão, identificado no livro
do Apocalipse como “a besta que subiu do mar” (Apocalipse 13). Como a voz do sangue de Abel clamava a Deus
desde a terra, assim os mártires clamaram com grande voz, dizendo: “Até quando, ó verdadeiro e santo Soberano, não
julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra?” Apocalipse 6:10.
Em resposta “foi lhes dito que repousassem ainda por pouco tempo, até que se completasse o número de seus
conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos, como também eles foram.” Apocalipse 6:11.
De acordo com a resposta dada, pode-se entender que depois daquele período haveria outros mártires e estes seriam
do período do Sacro Império Romano (538 a 1798 d.C.), identificado no livro do Apocalipse como “a besta que subiu
da terra”. Apocalipse 13:11-18. Em ambas as fases (pagã e religiosa), o Império Romano perseguiu o remanescente
povo de Deus, fazendo um número incontável de mártires. (ver Apocalipse 13:7; 13:15; 20:4).
SEXTO SELO
“E vi quando abriu o sexto selo, e houve um grande terremoto; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua
toda tornou-se como sangue; e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira, sacudida por um
vento forte, deixa cair os seus figos verdes. E o céu recolheu-se como um livro que se enrola; e todos os montes e
ilhas foram removidos dos seus lugares. E os reis da terra, e os grandes, e os chefes militares, e os ricos, e os
poderosos, e todo escravo, e todo livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; e diziam aos
montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do
Cordeiro; porque é vindo o grande dia da ira deles; e quem poderá subsistir?” Apocalipse 6:12-17.
O grande terremoto que ocorreu na abertura do sexto selo revela um período de aflição, transformação e instabilidades
com a adoção do cristianismo pelo Império Romano. O impensável havia acontecido. Encarando o cristianismo de um
modo pragmático, Constantino alterou o curso da história romana, que passou a ter uma nova roupagem, marcada por
um ponto de mudança nas relações Igreja-Estado.
A cristianização de Roma feita no quarto século foi uma estratégia bem elaborada por Constantino. Ele percebeu que a
extensa rede da Igreja poderia revelar-se uma ajuda preciosa na unificação e no conseqüente domínio de tão vasto
Império.
Atualmente muitos sinceros cristãos associam os eventos do sexto selo ao terremoto de Lisboa, ocorrido em 1º. de
novembro de 1755, ao dia escuro de 1780 e à queda de estrelas em 1833. Ensinam eles que os eventos do sexto selo
culminam com a segunda vinda de Cristo a esta Terra e o sétimo selo é a manifestação da vinda de Cristo. Contudo,
essas interpretações são equivocadas pelas seguintes razões:
a) Tomando-se como base os ensinos da Palavra de Deus, ao ser aberto o sétimo selo começam a soar as sete
trombetas (Apocalipse 8:1 e 2). Considerando a grandiosidade dos eventos que representam estas trombetas, não
haveria espaço de tempo suficiente para que eles pudessem acontecer no momento da vinda de Cristo.
b) A expressão “Dia do Senhor” na Bíblia, nem sempre é aplicada para a volta de Cristo, mas pode significar também
um período de rebelião e comoção política no mundo. Como exemplo, podemos citar a tomada de Babilônia pelos
Medos, conforme descrita em Isaías, capítulo 13:
Isaías 13:6 – “Uivai, porque o dia do Senhor está perto; virá do Todo Poderoso como assolação.”
Isaías 13:10 – “Pois as estrelas do céu e as suas constelações não deixarão brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao
nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz”
Isaías 13:11 – “E visitarei sobre o mundo a sua maldade, e sobre os ímpios a sua iniqüidade; e farei cessar a
arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos cruéis.”
Isaías 13:13 – “Pelo que farei estremecer o céu, e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos
exércitos, e por causa do dia da Sua ardente ira.”
Evidentemente o profeta Isaías não se referiu à volta de Cristo, mas à queda de Babilônia. Ao examinar os versos 1 e
17 do mesmo capítulo 13 de Isaías, a constatação é clara:
“Oráculo acerca de Babilônia, que Isaías, filho de Amoz, recebeu numa visão. ...Eis que suscitarei contra eles os
medos, que não farão caso da prata, nem tampouco no ouro terão prazer.” Isaías 13:1 e 17.
Os mesmos termos utilizados no livro de Isaías para anunciar a derrocada da Babilônia antiga, são agora mencionados
em Apocalipse 6:12-17 para anunciar uma nova turbulência de grandes proporções que atingiria o Império Romano.
Não faz referência à volta de Cristo, mas às profundas transformações políticas e religiosas perpetradas pelo
Imperador Constantino, que ao mesmo tempo era sumo sacerdote das religiões pagãs do Império e devoto do “deus-
Sol Invictus”. O cristianismo paganizado implantado por ele abalou a fé cristã e ainda exerce forte influência até os dias
de hoje.
SÉTIMO SELO
“Quando abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu, quase por meia hora. E vi os sete anjos que estavam em pé diante
de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas. Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e
foi-lhe dado muito incenso, para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está
diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos. Depois o
anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o lançou sobre a terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e
terremoto.” Apocalipse 8:1-5.
A abertura do sétimo selo são as sete trombetas. Houve silêncio no céu por “quase meia hora”. Meia hora em profecia
é um período de aproximadamente 7 dias. O número 7 indica perfeição e também cumprimento, isto é, Deus inicia e
termina. Entendemos ser esta uma indicação de que Deus se prepara para realizar suas ações no mundo, conduzindoo
para o cumprimento de seus intentos e decretos.
As Sagradas Escrituras revelam que ao final da abertura dos sete selos veio um Anjo da parte de Deus. Ele tomou o
incensário, encheu-o do fogo do altar e o lançou sobre a Terra (Apocalipse 8:5). Este ato pode ser entendido como
uma reposta de Deus às orações dos santos, preparando-os para os próximos e solenes acontecimentos sobre a face
da Terra.
III – CONCLUSÃO
A história e os fatos relacionados ao Império Romano, têm tudo a ver também com a trajetória do remanescente povo
de Deus. Esse povo sobreviveu e cresceu nesse ambiente hostil, cercado de inimigos, os quais se utilizaram do poder
político e militar para alcançar os seus mais cruéis intentos. Os pagãos perseguiam aqueles que ousavam obedecer as
Escrituras Sagradas. Apesar de todas as perseguições e mortes, o povo de Deus manteve-se puro e conservou-se fiel
à Palavra de Deus. Esse remanescente de Deus continua existindo até hoje. É um povo vitorioso. No futuro reino
milenar de Cristo, o profeta os viu em visão e a respeito deles está escrito:
“Então vi uns tronos; e aos que se assentaram sobre eles foi dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram
degolados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem,
e não receberam o sinal na fronte nem nas mãos; e reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.” Apocalipse
20:4.